Entrevista debate com dois Leceiros

ENTREVISTA DEBATE COM DOIS LECEIROS

Podiam ter sido outros dois Leceiros mas o "Leça Sempre" entendeu que seriam as pessoas indicadas para esta iniciativa: Estamos a falar de Bruno Silva, fundador e líder dos Ultras Leça, e de Rui Freitas, fundador e líder do Movimento 1912, que durante cerca de 3 horas responderam a perguntas, deram opiniões sobre vários temas da vida Leceira, assim como do estado das claques em Portugal, uma iniciativa marcada em primeiro lugar pelo ambiente ultra da sala em que decorreu em Modivas, uma sala recheada de cachecóis, camisolas e outros objectos ligados ao mundo de futebol; em segundo lugar, pelo ambiente de total descontração como decorreu o debate, de uma forma animada mas sem discussões.; por fim, na maneira como os intervenientes falaram e agiram, sem rodeios, sem papas na lingua e falando abertamente sobre os assuntos propostos pelo blog dos adeptos e pelo lecasempre.com

Para finalizar esta introdução, o nosso agradecimento ao Bruno Silva pelo facto de ter disponibilizado uma sala em sua casa para realizar esta iniciativa e ao Rui Freitas por ter aceite o convite para uma conversa excelente a todos os niveis e debater vários assuntos com o Bruno Silva.

O afastamento das claques Leceiras dos estádios

Movimento 1912 - " Um grupo de reflexão"
Segundo Rui Freitas, o Movimento continua activo mas tem optado por não levar material porque tal não se tem proporcionado. Depois para além disso, tambem contribui para isso, alguns membros ainda estarem indignados com o jogo com o Leixões e isso incendiou os ânimos de alguns membros, assim como posteriormente foi dito por alguem, que não tinha estado presente nenhuma claque Leixonense no jogo Leça x Leixões. No entanto, os seus membros a titulo individual continuam a assistir aos jogos e continuam a manifestar o seu apoio ao clube.Aquando das notas finais sobre este tema, Rui Freitas considerou que a CA neste momento não tem meios para auxiliar as claques e que também frisou, o Movimento nunca fez qualquer exigência, referindo também que tem uma relação normal com os outros adeptos Leceiros e que quando aos adeptos adversários, que os respeita mas que "o Leça está acima de tudo, primeiro que tudo"

Nota: As duas últimas presenças do Movimento foram na Póvoa e em Alijó.

Ultras Leça - "Sempre presentes"
O motivo principal do afastamento dos UL na opinião de Bruno Silva é a desmotivação desde a chegada desta CA ao poder. Nos primeiros jogos ainda lutaram contra a adversidade, organizaram-se mas tudo se tornou complicado desde a saida do antigo director de marketing, o Sr. Nuno, que na opinião do Bruno Silva, se preocupava verdadeiramente com os grupos de apoio Leceiro. Continuando este assunto, referiu também que acha que o Sr. Mário Sá está muito mal rodeado mas deixou no ar a hipótese dos UL voltarem "quando algumas pessoas sairem da CA"Como nota final, referiu uma situação em que os Ultras pediram uma sala para guardarem o material no pavilhão e o pedido foi chumbado quase de imediato, que os Leceiros são fieis como poucos ao seu clube mas que a descrença no clube é um mal que pode vir a tornar-se real em breve se o Leça não melhorar.

Nota: A última deslocação dos UL foi a Santo Tirso.

Uma breve história de ambas as claques

Rui Freitas:"O Movimento surgiu de um repto lançado pelo Sr. Nuno (na altura director de marketing do clube), isto durante o fim da epoca 2004/2005 (iniciando como Movimento 1912 em Agosto 2005) em que já existiam tensões entre a CA e os Ultras Leça. Aliás, uma condição para a formação do Movimento foi sempre não ir contra os Ultras Leça, por esse motivo foi realizada uma reunião entre mim e o Bruno, para expor a situação e tentar arranjar uma solução de entendimento, a qual por uns tempos passou pela fusão entre os grupos mas que depois não foi levada para a frente. Passado um mês do lançamento deste repto, fomos novamente contactados pelo Sr. Nuno e após uma reunião entre elementos do futuro Movimento, o Dr. Domingos Alves e o Sr. Nuno, concordamos em criar o Movimento mas sempre frisando que não seriamos uma claque mas um grupo de apoio com uma perspectiva diferente. Nessa mesma reunião, ficou definido que teriamos bilhetes a um preço mais reduzido e nada mais. O objectivo do grupo foi atrair jovens num escalão etário entre os 13-20, ou seja, demonstrar que o Leça era viável a jovens mas todos os Leceiros eram convidados a juntarem a sua voz ao Movimento. Escolhemos aquele sector para ficar sobretudo para dar vida a aquela bancada e presenciar o jogo com outra perspectiva.

Momento de lançamento - Primeiros jogos em casa, em que foi possivel conviver com os Ultras Leça sem problemas e em que chegaram a fazer um kop a kop com eles.

1ª deslocação - Foi ao Padroense com a ressalva que partilharam o mesmo autocarro com os Ultras e em que mostraram que estvam ali para defender os Leceiros.

Momentos positivos - Deslocação a Póvoa, pelo ambiente e pelo apoio dado, em que contagiaram os Leceiros presentes.

Momentos negativos - A deslocação ao Valonguense pelos desacatos entre o público.

Bruno Silva:"Os Ultras Leça surgiram em Outubro de 1994, devido ao ambiente de euforia devido à subida rápida do clube, e juntamente com o André Cação pensamos em criar uma claque porque achavamos que a fanfarra que estava na lateral já não era apoio suficiente para o Leça e decidimos que ali seria o nosso sitio porque é uma bancada em que é possivel ver o jogo muito bem e os jogadores sentem mais ali o apoio. Sendo assim, pensamos em 3 nomes: Muralha Verde, Green Rangers e Ultras Leça, e escolhemos o nome Ultras Leça para mostrar que eramos diferentes e eramos pelo Leça. Para frisar a nossa maneira de ser, começamos a fazer algumas coreografias, a reunir patrocínios, e mostrar a todos que eramos pelo Leça mas de uma forma diferente, evoluimos desde uma postura de puro amadorismo ao inicio até ao estatuto alcançado em finais da década de 90 mas o grande salto foi com a subida do Leça à 1ª divisão, em que ficamos melhores e mais organizados.De referir que os primeiros membros dos Ultras Leça foram eu e o André Cação, sendo que o Cação sairia da claque cerca de um ano depois, deixando a direcção entregue a mim e a outros novos elementos (estes novos elementos que trouxeram muita coisa nova e importante a claque), e que tivemos como patrocinios a IMOLOC, o restaurante Rochedo e a Cascata, que felizmente sempre nos ajudaram e muito.

Momento de lançamento - Quando o Leça subiu à 1ª divisão, evoluimos muito com isso.

1ª deslocação - Campo Maior.

Momento positivo - O jogo da subida frente à Académica e os festejos em frente a CM de Matosinhos em que toda gente viu a união Leceira.

Momento negativo - A queda do Leça

Uma referência à Brigada Verde, que foi uma divisão criada nos UL devido a má fé de alguns elementos que quase destruiram a claque mas que ao fim de alguns meses a situação voltou ao normal.

A junção entre as claques foi algo que chegou a ser ponderada seriamente?

RF - Sim mas por como não houve uma decisão unanime, preferimos não avançar.

BS - Foi colocada a hipótese mas não havia acordo de todos.

Problemas em Santo Tirso e com os adeptos do Tirsense

De acordo com o Bruno Silva, "tudo começou com os preços exagerados e inflacionados nesse jogo, aliás de propósito na minha opinião. Tentamos chegar a um acordo com a PSP para conseguir bilhetes mais baratos com a garantia que em Leça, seriam praticados os mesmos preços, a PSP avalizou mas os dirigentes do Tirsense rejeitaram sem qualquer justificação. Pediram entre 9 e 10 euros pelos bilhetes, e o pessoal ficou indignado pela atitude do Tirsense, obviamente alguns membros ficaram furiosos e reagiram mal, insultando verbalmente o Tirsense mas nessa altura de repende, sairam de dentro do estádio cerca de 40 adeptos munidos com varas de plático e paus e atacaram os UL. Nós reagimos e lutamos contra isso mas conseguiram isolar um membro nosso e agredir o mesmo sem piedade, eram 30 contra 1! Os UL após conseguirem resgatar esse membro, reagiram da mesma maneira e começaram a partir para a luta. Aliás o único detido foi o nosso membro que foi brutalmente agredido. Depois desse jogo, alguns adeptos do Tirsense começaram a ameaçar por internet que qualquer Ultra que voltasse lá seria espancado, e para mostrar que os Ultras não tem medo de ninguem, organizamos um autocarro, falamos com a PSP para evitar problemas e fazer tudo de uma forma profissional, no entanto esse jogo ficou marcado mais pela má arbitragem do que pelos desacatos, no entanto ninguem se tentou meter com os Ultras, mostrando assim que era só paleio."

Achas provável organizar mais uma viagem ao Tirsense?

RF - Eu vou estar presente, no entanto enquanto grupo, primeiro temos a iniciativa do jogo com o Vila e depois logo vemos.

BS - Talvez mas não garanto nada.

O futuro do Leça

Na opinião de Rui Freitas, passa em primeiro lugar pelo saneamento financeiro, ter uma recuperação económica estável e continua. Em segundo lugar, apostar deliberadamente na melhoria das condições para as camadas jovens e apostar claramente nos jogadores vindos da formação.

Para Bruno Silva, a recuperação financeira deve ser a aposta do clube sem esquecer em tornar o clube mais virado para os sócios, e servir melhor a comunidade Leceira. Considera também que deve haver uma maior aposta na formação desportiva e na aposta dos jogadores saidos das camadas jovens.

Frases:

"Temos um complexo desportivo em Leça que não serve os interesse do clube nem dos Leceiros." - Rui Freitas

"Somos o clube mais representativo de Matosinhos nos últimos 20 anos mas estamos a perder esse estatuto rapidamente" - Bruno Silva

Temática dos bilhetes

RF - "Em primeiro lugar, houve um protesto em que vários grupos de apoio se organizaram e fizeram uma abordagem superficial sobre isto, acho que os adeptos devem tomar medidas mais fortes, por exemplo o pessoal do sul se concentrar à porta da FPF e os do norte à porta da Liga, e assim mostrar o descontentamento de uma forma mais visivel. Para mim, a causa deste problema é sem dúvida, o dirigismo em Portugal."

BS - "Para mim a causa deste problema é a pura ganância dos dirigentes, não se pode pedir mais dos adeptos com estes preços, acho que deviam abrir as portas mais vezes para atrair os adeptos, mostrar que o futebol é apelativo e assim criar motivos para os adeptos voltarem aos estádio, em especial a juventude. Vejam o exemplo do Leça que abriu as portas no último ano na 2ª liga e foi um mar de gente a apoiar o nosso clube. "

O Movimento Ultras em Portugal - Notas soltas dos participantes

- Melhoria das condições nos estádios, alguns são um luxo, outros muito maus, sobretudo tendo em atenção os preços praticados.

- A nível de apoio organizado, devia haver uma aproximação ao modelo das claques italianas (ao nivel de coreografias, apoio e cânticos).

- Voltar a euforia da decada de 90, com o surgimento de novos grupos e com novos ideais.

- Levantar a voz contra as calúnias da comunicação social, que passam uma imagem negativa das claques.

- Conseguir estancar os grupos organizados que só estão no futebol por dinheiro e não por amor ao clube.

Para conclusão, qual a claque com que mais te identificas em Portugal:

BS - "Para além dos Ultras Leça, a Mancha Negra pelo apoio prestado e pela lealdade a Académica nos bons e nos maus momentos."

RF - "Bem, divido as minhas escolhas por fases: Anos 80, Super Dragões, decada de 90 até cerca de 98, No Name Boys e Juve Leo e a partir dai, novamente os Super Dragões. A nivel de apoio, escolho a Mancha Negra pelo seu apoio incondicional"

Este é o resultado de uma conversa informal, sem rodeios, em que vários assuntos foram abordados. Contamos no próximo mês repetir esta iniciativa, desta vez com um atleta do plantel sénior do Leça FC. Até breve!

Agradecimentos dos entrevistados:

Bruno Silva - "A todos os UL que me acompanharam, em especial para o Nuno Luz mais conhecido por Tubbi, ao Dr. Domingos Alves que sempre nos apoiou e ao Sr. Pedro Sousa, pelo apoio concedido."

Rui Freitas - "Ao pessoal do Movimento, a quem acreditou no projecto e a todos os que acreditam no Leça"

Dados dos entrevistados:

Bruno Silva 27 anos Residente em Modivas Apoia o Leça regularmente desde os 14 anos

Rui Freitas 30 anos Residente em Leça da Palmeira Apoia o Leça regularmente desde os 15 anos